Sabe do que é que eu tenho vontade, Maria? Eu tenho vontade da vida. É, da vida. Essa coisa assim, tão bonita, tão intensa. Imagina só como não deve ser ótimo poder sentir, não é mesmo? Sentir o vento no rosto, bagunçando os cabelos; sentir a pele do outro tocando na sua, sentir o gosto, sentir o beijo. Eu já senti alguns beijos sim, e alguns toques também, diferente de você. Mas você também já sentiu o toque... Mas não é a mesma coisa, é? É tão frio, sem vontade. É diferente quando a Margarida toca o namorado dela e quando toca a gente, não é? É diferente quando ela beija ele, eu sei que é. Com a gente não tem calor, não tem amor. Não tem vida. Às vezes eu até acredito que quando ela me olha com aqueles olhos de mel transbordando amor é pra mim, mas é tudo ilusão. É tudo amor próprio, Maria. É tudo vontade de se ter, de ser dona de si mesma. É tudo vontade, poder. Diferente da gente, não é? A gente fica onde mandam ficar, onde colocam. A gente não vive, a gente só vê, observa. A gente não sente. Afinal, você é só uma porta e eu sou só um espelho. Um espelho com vontade de vida.
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