Os olhos focados em um ponto distante, o qual os outros não podiam definir; não podiam definir pois estavam fixados dentro dela mesma. O quê ela via? Bocas, sorrisos, corpos, abraços, camas quentinhas e muito amor em pouco tempo. Chamaram uma, duas, três vezes; ela não atendeu, mas os ouvidos estavam atentos, apurados. O quê ela ouvia? A chuva batendo na janela, a risada estrondosa, os gemidos gostosos, a respiração próxima e as juras de amor. Ela ouvia sua própria alma gritando; pedindo por socorro, querendo sair daquela ilusão a qualquer custo. Ela via as nuvens cinza fechando tudo dentro dela, embaçando as janelas e trancafiando a dor. Elas queriam sair – ah!, como queriam. E então choveu de dentro pra fora, transbordando os tornados, os segredos, os desejos e os receios daquela que estava ali, tão perdida no mundo e concentrada dentro de si mesma. Choveu. Molhou o rosto, a roupa, a alma, mas não lavou; as nuvens continuaram lá, cinzas, presas no olhar distante, esperando só mais um pinguinho de saudade pra transbordar outra vez.
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